A ANPETSHOP, como representante dos pet shops de todo porte no Brasil, manifesta sua preocupação e atenção redobrada frente à fusão entre Petz e Cobasi. Reconhecemos os pontos favoráveis ao mercado, mas também enxergamos riscos concretos que merecem escrutínio técnico, regulatório e ético, para proteger a competitividade, a diversidade de oferta e o consumidor.
⸻
O que se sabe até agora
1.Estrutura do negócio
•A operação prevê que a Petz se torne subsidiária integral da Cobasi. Os acionistas da Petz receberão ~52,6% da nova empresa; os da Cobasi, ~47,4%. 
•O faturamento estimado da empresa combinada no varejo pet será de cerca de R$ 7 bilhões. 
2.Decisões do CADE
•Em 2 de junho de 2025, a Superintendência-Geral do CADE emitiu parecer favorável, sem restrições à fusão, baseando-se em que o mercado pet, físico e digital, é pulverizado, com muitos competidores, e baixa barreira de entrada. 
•Entretanto, há uma ampliação da investigação pelo CADE (em outubro de 2025), que acionou mais de 200 agentes (concorrentes e fornecedores) para analisar os impactos reais sobre preço, acesso a fornecedores, práticas comerciais, possíveis cláusulas abusivas, diferenciação de preços por porte, etc. 
3.Posições conflitantes
•Petlove: entrou como terceiro interessado com recurso ao Tribunal do CADE, alegando que a fusão poderia resultar em monopólio em muitos mercados físicos, e em alta concentração no varejo online. 
•Petz + Cobasi: alegam que não existirão riscos concorrenciais, afirmam que o mercado é competitivo, que há diversos players, e que a fusão trará ganhos de escala, maior capilaridade, potencial para preços menores ou melhor oferta ao consumidor. 
⸻
Os principais riscos e impactos que a ANPETSHOP enxerga:
1.Concentração local
Mesmo que o panorama nacional pareça competitivo, em muitos municípios ou bairros (mercados locais), a participação combinada de Petz + Cobasi ultrapassa 50%, o que configura posição dominante. 
2.Fornecedores sob pressão
•Possíveis contratos de exclusividade, descontos ou incentivos dados unilateralmente para as cadeias grandes podem “pressionar” fornecedores a oferecerem condições desfavoráveis ou mesmo excluir pequenos pet shops. 
•Diferença de poder de negociação: as empresas grandes tendem a ter escala, cadeia logística, poder de barganha, o que pode levar a preços de compra muito melhores, margens de fornecimento muito ajustadas para os menores. Isso pode comprometer a viabilidade de muitos pet shops.
3.Variação de preços e competitividade
Se Petz + Cobasi passarem a ditar certas condições de mercado (preço, portfólio, descontos), pequenos varejistas podem não conseguir replicar ou absorver essas mudanças, prejudicando o consumidor local que depende desses negócios.
4.Barreiras de acesso
Mesmo com suposta baixa barreira de entrada, há funções de escala logística, capital, integração entre lojas físicas e canais digitais, marketing e reconhecimento de marca que favorecem empresas grandes.
Pet shops menores frequentemente não têm esses recursos.
5.Impacto sobre diversidade e inovação
A diversidade de oferta (produtos diferenciados, atendimento especializado, inovação local) corre risco de se homogeneizar caso o mercado fique muito dominado por grandes redes.
Competitividade saudável depende de pluralidade de atores.
⸻
Propostas da ANPETSHOP
Para garantir que a fusão — caso seja autorizada definitivamente — não prejudique o setor, ANPETSHOP sugere:
1.Remédios regulatórios
•Obrigar garantias contratuais para pequenos fornecedores: preços justos, contratos não exclusivos, transparência nas políticas de desconto.
•Cláusulas que protejam pet shops locais no acesso aos principais produtos, especialmente “marcas próprias” ou itens de alta demanda.
2.Monitoramento contínuo
•Estabelecer mecanismos de fiscalização do poder de mercado, com relatórios regulares ao CADE ou outro órgão regulador.
•Auditorias independentes, até participação de entidades setoriais para acompanhar os efeitos pós-fusão.
3.Política de estímulo para pequenos e médios
•Programas de capacitação e cooperação com fornecedores menores.
•Incentivos para que distribuidores não adotem políticas que favoreçam exclusivamente redes grandes.
4.Transparência
•Que as decisões, os dados de análise do CADE, os questionamentos enviados a fornecedores e concorrentes fiquem públicos, legíveis e acessíveis.
•Ouvir de forma ampla os pet shops de bairro para entender seu impacto real.
⸻
Mensagem Final
A ANPETSHOP reafirma: fusões desse porte inevitavelmente mudam o jogo. Podem criar eficiências e oferecer vantagens à cadeia e ao consumidor — mas também trazem riscos de concentração, exacerbação de desigualdades entre grandes e pequenos.
Estamos à disposição para colaborar com o CADE, com os fornecedores, com os pet shops, com o mercado como um todo, para que essa operação aconteça, se for o caso, de modo justo, transparente, competitivo e saudável.